sexta-feira, dezembro 07, 2007

Eu freqüentava o mesmo bar.
Havia a mulher de lábios vermelhos apresentando seu número de praxe.
A maioria dos espectadores envolvidos .
A mesma canção que eu não podia sequer compreender uma palavra.
É que ela cantava com voz de pássaro engaiolado.
Eu tinha o copo próximo das mãos, estava debruçada na janela mais próxima do balcão.
Eu olhava a rua, era noite e eu visualizava uma paisagem bucólica e podia me deliciar com a presença do beija-flor que às vezes me visitava. É que eu deixava um bebedouro próximo à janela, com flores artificias e água adocicada.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Relatos Sorrateiros




























[De cima para baixo: Parada LGBT, calle Florida, Bellas Artes, Puerto Madero y calle Bolivar en San Telmo]

Por que se chamava moço,
também se chamava estrada,
viagem de ventania..

domingo, novembro 11, 2007

Fui ser feliz e jà volto

¨Há tanta alegria adiada abafada, quem dera gritar
To me guardando pra quando o carnaval chegar.¨
(Chico Buarque)
E näo é que chegou..

sábado, novembro 03, 2007

Aprender pra dizer a mesma coisa*

"Sabe, gente.É tanta coisa pra gente saber."
[Preciso aprender a só ser - ouvi Gil cantando, recomendo]

Mais um encontrado e contemplado num lugar escuro como esse, o escuro é sempre convidativo para se deixar emergir a emergência, nãe emudecer gritos ou aprisionar gestos:

"Eu gosto do meu quarto, do meu desarrumado. Ninguém sabe mexer na minha confusão. É o meu ponto de vista, não aceito turistas. Meu mundo tá fechado pra visitação. Eu corto os meus dobrados, acerto os meus pecados. Ninguém pergunta mais... depois que eu já paguei. Eu vejo o filme em pausas, eu imagino casas. Depois eu já nem lembro do que eu desenhei."

*Ou simplesmente, sim.

segunda-feira, outubro 29, 2007


O Beijo - Gustav Klimt, 1907-8
Österreichische Galerie, Vienna

sexta-feira, outubro 26, 2007

PIQUENIQUE NO FRONT

Mais uma experiência teatral, peça de Fernando Arrabal dirigida por nossa querida Adriana Oliveira.
Novamente em novembro..

Foto: Marcos Teischmann

quinta-feira, outubro 11, 2007

Pontos de fuga, linhas quebradas



Nosferatu, de F. Murnau.



O Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Weine.

Shadows and Fog, baseado na peça de Woody Allen.

NÃO É QUE EU ACHE QUE O MUNDO TENHA SALVAÇÃO

Me dê um beijo, meu amor
Só eu vejo o mundo com meus olhos
Me dê um beijo, meu amor
Hoje eu tenho cem anos, hoje eu tenho cem anos


E meu coração bate como um pandeiro num samba dobrado
Vou pisando asfalto entre os automóveis
Mesmo o mais sozinho nunca fica só
Sempre haverá um idiota ao redor


Me dê um beijo, meu amor
Os sinais estão fechados
E trago no bolso uns trocados pro café


E o futuro se anuncia num out-door luminoso
Luminoso o futuro se anuncia num out-door


Há tantos reclames pelo céu
Quase tanto quanto nuvens
Um homem grave vende risos
A voz da noite se insinua
E aquele filme não sai da minha cabeça
E aquele filme não sai da minha cabeça


Rumino versos de um velho bardo
Parece fome o que eu sinto
Eu sinto como se eu seguisse os meus sapatos por aí
Eu sinto como se eu seguisse os meus sapatos por aí


Há alguns dias atrás vendi minha alma a um velho apache
Não é que eu ache que o mundo tenha salvação


Mas como diria o intrépido cowboy, fitando o bandido indócil
A alma é o segredo, a alma é o segredo
A alma é o segredo do negócio



Oswaldo Goeldi

[Balada do Asfalto. Zeca Baleiro, Baladas de Asfalto.]

sexta-feira, outubro 05, 2007

Eis o melhor e o pior, sem maniqueísmos necessariamente

Era uma daquelas pessoas que não se pode entender ou desvendar o que pensa.
Vez por outra, quando era atingida, costumava silenciar as evidências.
Quase nunca se deixava cair pelo impacto do tiro certeiro, dessa forma, continuava
caminhando. Tomava o cuidado apenas de mudar de roupa, livrando-se assim das
marcas inerentes ao tiro.
Repetia esta ação incansavelmente quando sujeita à condição de vítima.
Com o tempo, as fissuras ignoradas levaram ao estado de apodrecimento.



" Eu vivi uma vida terrível, a maior parte da qual jamais aconteceu." (Mark Twain)


Sobre o poeta escaleno que gosta do Nada:
"É nos desvios que estão as surpresas" (inspirado em um poema de Manuel de Barros)

sábado, setembro 08, 2007

TRILOGIA SUJA - Pedro Juán Gutiérrez

"Me pareceu que muitíssimos anos antes minha alma havia abandonado o meu corpo e agora estava regressando. Podia senti-la invadindo cada cantinho do meu sangue e de minha carne.
Isabel havia se sentado na cama. Esperava por mim. Só de olhar para ela tive uma ereção instantânea. Continuava gostando dessa mulata. No final das contas, que fidelidade posso eu exigir? O mais infiel dos mortais.
Fechei a porta. Nos despimos devagar. Nos abraçamos e nos beijamos. Bem apertados. Meu coração se acelerou e quase derramo uma lágrima. Mas me contive. Não posso chorar na frente dessa bandida. Penetrei- a muito devagar, acariciando-a, e ela já estava úmida e deliciosa. É como entrar no paraíso. Mas também não lhe contei isso. É melhor gostar dela à minha maneira, em silêncio, sem que ela saiba." (p. 295 - EU, O MAIS INFIEL)

"Mas não vou contar essas histórias porque são muito pornográficas. Mesmo que absolutamente reais. A vida é assim. O que mais atrai é o proibido. Uma noite, estamos Isabel e eu muito tranqüilos no meio da brisa noturna de agosto, sentados no Malecón. Em silêncio. Escutando as ondinhas que murmuravam nos recifes da orla, e olhando o céu negro ao longe e o negro mar que se afasta, ou se aproxima. Estamos mergulhados nisso: a escuridão imensa como um abismo a distância, e o cândido rumor da água a nossos pés. De qualquer jeito, estou vazio por dentro e aquele abismo negro e aquele murmúrio das ondas me atravessa de um lado a outro. Não fica dentro de mim. Só me atravessa e segue seu caminho. Mas pelo menos refresca um pouco. Aspiro forte e sinto o frescor daquele mundo imenso me invadindo. Mas a paz não chega. É como uma merenda rápida. Só isso." (p. 320 - O TRIÂNGULO DAS PITONISAS)

FORTALEZA


Foto: Rubens Bias


Minha fortaleza


Minha fortaleza é de


um silêncio infame


Bastando a si mesma,


retendo o derrame


A minha represa


[Chico Buarque/Ruy Guerra - CALABAR]

quarta-feira, agosto 29, 2007

Muito Melhor que Bukowski

"Que noite boa, porra, que noite boa! Que horas serão? Qualquer
hora amanhece e vou ter de tirar os livros, e ir à luta. Ir à luta.
Não se pode baixar a guarda. Por isso me nocautearam aquela
vez. Porque eu baixei a guarda." (no capítulo: TEM SEMPRE UM
FILHO DA PUTA POR PERTO)

"Agora estou fodido, mas ninguém me tira o que já vivi!"

"Sobreviver, creio que se chama isso. Deixar-se deslizar e
não esperar nada mais. Muito fácil."

"Eu não queria me apaixonar de novo. Já estava cheio
do amor. O amor implica docilidade e entrega. Eu não podia
continuar sendo dócil, nem podia me entregar a nada, nem
a ninguém."

"Dessa forma, um exibicionista (...) cumpre uma bela função social:
excitar os transeuntes, tirando-os por um momento de seu stress
rotineiro, recordando-lhes que apesar de tudo somos apenas uns
animaizinhos primários, simples e frágeis. E, sobretudo, insatisfeitos.
(no capítulo: EU, REVOLVEDOR DE MERDA)

Pedro Juan Gutiérrez vivendo sobre escombros, Trilogia Suja de Havana.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Em Cartaz Nova Turbulência

Traduzir-se [Ferreira Gullar]

Uma parte de mim é todo mundo
Outra parte é ninguém,
fundo sem fundo.

Uma parte de mim é multidão
Outra parte estranheza e solidão
Uma parte de mim pesa, pondera
Outra parte delira

Uma parte de mim
Almoça e janta
Outra parte se espanta

Uma parte de mim é permanente
Outra parte se sabe de repente
Uma parte de mim é só vertigem
Outra parte linguagem

Traduzir uma parte na outra parte
Que é uma questão de vida e morte
Será arte?

quinta-feira, agosto 16, 2007

"E ELA RODOPIAVA AO SOM DE UMA ESTRELA DANÇANTE, AO SOM DE UM SILÊNCIO TRISTE:

Eu vou ter tanta saudade de mim quando eu morrer." [A hora da estrela - Clarice Lispector]

Eu vos digo: é preciso ainda caos dentro de si, para poder dar à luz uma estrela dançante.
Eu vos digo: há ainda caos dentro de vós. [Assim falou Zaratustra - Friedrich Nietzsche]

sexta-feira, agosto 10, 2007

Estranheza

Essa seria a palavra,
resumindo o sentimento provocado pela falta que faz
aquele que não foi e que não sabemos se vai voltar.

"Saudade é um pouco como fome.
Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda
que a presença é pouco: quer-se absorver
a outra pessoa toda (...)"

Clarice Lispector costumava dizer isso sobre o tema,
acho que me convenceu.

terça-feira, agosto 07, 2007

Em cartaz catarse

Mais um da novela Se Eu Fosse Eu, um dia ainda em cartaz catarse:


Eu


Eu sou a tangência de duas formas opostas e justapostas

Eu sou o que não existe entre o que existe.

Eu sou tudo sem ser coisa alguma.

Eu sou o amor entre os esposos,

Eu sou o marido e a mulher,

Eu sou a unidade infinita

Eu sou um deus com princípio

Eu sou poeta!



Eu tenho raiva de ter nascido eu,

Mas eu só gosto de mim e de quem gosta de mim.

O mundo sem mim acabaria inútil.

Eu sou o sucessor do poeta Jesus Cristo

Encarregado dos sentidos do universo.

Eu sou o poeta Ismael Nery

Que às vezes não gosta de si.



Eu sou o profeta anônimo.

Eu sou os olhos dos cegos.

Eu sou o ouvido dos surdos.

Eu sou a língua dos mudos.

Eu sou o profeta desconhecido, cego, surdo e mudo

Quase como todo o mundo.



1933




Ismael Nery, Auto-retrato, 1925
Às vezes superestimamos nossa capacidade de guardar segredo, compartilhar
as aflições alheias sem que essas acabem por devorar nossas próprias entranhas.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Um e Outro

Na polarização inerente
a um e outro
O muro se apresenta
como condição necessária
para a garantia de aproximação
mas a pedra do muro
Não garante a permanência
Ela não está posta
Portanto, pode ser retirada*.



*Entendo por não estar "posto" algo que está sendo construído [sempre em relação a algo], não definitivo e que, portanto, pode ser retirado.

Tu não te moves de ti

" Prá onde vão os trens, meu pai?
Para Mahal Tami, Cam rí, espaços no mapa, e depois o pai ria:
também prá lugar algum meu filho, tu podes ir e ainda que se
mova o trem tu não te moves de ti. " (Tu não te moves de ti - Hilda Hilst)

Esse trecho era cantarolado como um mantra na peça Matamoros [da fantasia]
em cartaz no CCBB, com um ótimo elenco como Luiz Päetow num papel que lhe cai muito bem, Maria Alice Vergueiro, entre outras e que termina no próximo domingo dia 05/08.
A peça faz reflexões bem bacanas com um texto muito bonito de Hilda Hilst que faz parte da chamada vertente transgressiva de Hilda, trata-se de um conto dentro do livro Tu não te moves de ti, aqui deixo algumas impressões.
Fica minha recomedação num cantinho escuro e desconhecido como esse.
As impressões...

Correr o risco. de ser devorado.

Em uma das passagens, mãe Haiaga faz uma comparação entre pássaros e pessoas, que se forem tratados com carícias e cuidados deixam de querer buscar o infinito.
O Homem [Meu] faz reflexões interessantes sobre Deus e o Diabo: quando nos aproximamos do segundo ele quer logo que esqueçamos da nossa alma, e quando nos aproximamos de Deus ele quer logo que esqueçamos do nosso corpo, da nossa carne.
Como conciliar ambos?
"Apenas três noites de amor com seu pai. Filha, só três noites de amor."
"Vocês estão achando tudo isso putaria ou metafísica, não é. Obsceno. O que foi que eu disse? Obsceno. As palavras dão muito peso às coisas." [e pára de falar]

" Um poema
não se explica
É como um soco
E se for perfeito
te alimenta para
toda a vida "

[Hilda Hilst]

quinta-feira, julho 26, 2007

quinta-feira, julho 19, 2007

Felicidade banalizada, é aqui mesmo!*

Já tenho um filho e um cachorro
Me sinto como num comercial de margarina
Sou mais feliz do que os felizes
Sob as marquises me protejo
do temporal

Oh meu amor me espere
Que eu volto pro jantar
Ainda tenho fome

Eu vejo tudo claramente
Com os meus óculos de grau
Loucura é quase santidade
E o bem também pode ser mal

Engrosso o coro dos contentes
E me contento em ser banal
Loucura é quase santidade
E o bem meu bem pode ser mal

[Um Filho e Um Cachorro - Pet Shop Mundo Cão - Zeca Baleiro]
*Contra a banalização da felicidade resumida em comerciais de margarina,
contra a hipocrisia,
contra a liberdade de escolha controlada,
contra as idades ideais estipuladas.
Podemos ser só, e pronto?
Só ser.

quarta-feira, julho 18, 2007

Clariceando

Ele falava a tarde toda:
- Afinal nessa busca de prazer está resumida a vida animal.
A vida humana é mais complexa: resume-se na busca do prazer, no seu temor, e
sobretudo na insatisfação dos intervalos. É um pouco simplista o que estou falando, mas não importa por enquanto. Compreende? Toda ânsia é busca de prazer. Todo remorso, piedade, bondade, é o seu temor. Todo o desespero e as buscas de outros caminhos são a insatisfação.Eis aí um resumo, se você quer. Compreende?
- Sim.
- Quem se recusa ao prazer, quem se faz de monge, em qualquer sentido, é porque tem uma
capacidade enorme para o prazer, uma capacidade perigosa - daí um temor maior ainda. Só
quem guarda as armas a chave é quem receia atirar sobre todos.

[trechos do diálogo entre Joana e o professor, ... O Banho - Perto do Coração Selvagem, CLARICE LISPECTOR]

sábado, junho 23, 2007

Vida Seca

Depois de tudo eles apagaram as luzes como se não houvesse ninguém lá
Eu era uma terra seca, infértil. Nada poderia florescer se não contivesse em si qualquer possibilidade de desenvolvimento.
Pensei, achei triste, achei que era seco demais. Me defendi. Eu pensei. Eu não poderia deixar nascer. Não deixaria nascer algo que já estivesse morto.
Eu não era contra o nascimento, apenas não permitiria o nascimento de algo que nasceria morto.

quarta-feira, junho 13, 2007

Quem retirou a última pedra do muro
em que estávamos vivendo em cima?

sábado, junho 02, 2007

Recíprocas verdadeiras

Cadê Você (Leila XIV)
Chico Buarque

Me dê noticia de você
Eu gosto um pouco de chorar
A gente quase não se vê
Me deu vontade de lembrar

Me leve um pouco com você
Eu gosto de qualquer lugar
A gente pode se entender
E não saber o que falar

Seria um acontecimento
Mas lógico que você some
No dia em que o seu pensamento
Me chamou

Eu chamo o seu apartamento
Não mora ninguém com esse nome
Que linda a cantiga do vento
Já passou

A gente quase não se vê
Eu só queria me lembrar
Me dê noticia de você
Me deu vontade de voltar

-------------------

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida,
pus-te ali.
Até que tuas raízes atravessaram
o meu peito.
Se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca.
Floresceram comigo.

[Pablo Neruda]

domingo, maio 06, 2007

Retalhos

A porta ficara aberta.
E o quadro torto na parede da sala que já havia incorporado
a bagunça costumeira.
A mesinha de centro esquivada à direita
sem traços de vasos ou flores.
O relógio da parede num desritmado ansioso
pelo barulho do telefone.
Nada havia mudado naquela
tarde ensimesmada de domingo
Não fosse a porta aberta e a ausência de ruídos.

quinta-feira, abril 19, 2007

Do rabo dos ratos, sou Ana de Amsterdan

Tem dias que eu me sinto como se..
se me perguntarem eu diria
não sou mulher/homem
sou um rato.
Um mero roedor
Um rato
mais deplorável ainda
um rato que rói
o próprio rabo.

segunda-feira, abril 16, 2007

Por alguém

Esse não é de minha autoria, mas a poesia não pode ser sufocada.
Desculpa se não era pra dividir com nosso inexistente desconhecido,
é que eu não pude me conter.
Aliás, a poesia é que não pode se conter.

"Fiz do seu blog um refugio,calado!
Onde eu posso sentar num canto escuro, pelado!
e te ouvir cantar poesia..
matar a saudade nas tardes vazias

mas é que ando mendigando boa companhia!
aqui tá ruim mas tá bom.. e aí?
tem ferida abrindo antes da anterior fechar
tem dívida surgindo antes da última eu quitar
é a meia idade ou eu tô ficando xarope?!!
(rs)
preciso de um banho de chuva bem gelado!!"

sexta-feira, abril 13, 2007

Eu Falso Da Minha Vida O Que Eu Quiser *

Um & Outro

Um fala, o outro escuta
Um cala, o outro muta
Um grita, o outro olha
Um habita, o outro desfolha

Um aperta, o outro solta
Um liberta, o outro volta
Um salta, o outro pousa
Um falta, o outro ousa

Entrar na fenda que nos separa
da ponte que nos aproxima
Quem retirou a última pedra
do muro que estávamos em cima?

Um atura, o outro devora
Um mistura, o outro demora
Um corre, o outro estanca
Um morre, o outro arranca
Um concorda, o outro sabe
Um transborda, o outro cabe
Um chamusca, o outro congela
Um busca, o outro revela

A fenda que nos separa

Um existe, o outro permanece
Um insiste, o outro acontece
Um estranha, o outro acostuma
Um acompanha, o outro desarruma
Um agarra, o outro conquista
Um esbarra, o outro despista
Um batalha, o outro entrega
Um encalha, o outro navega

Na fenda que nos separa
da ponte que nos aproxima
Quem retirou a última pedra
do muro que estávamos em cima?

*Álbum de Paulinho Moska

sábado, abril 07, 2007

Experiências Fotográficas


Era um domingo de sol, era uma apresentação de uns amigos, era Teatro de Rua, éramos eu e um amigo que adora tirar retratos, era colorido.
"Que Eu é Você" - O Bando São Genésio














sexta-feira, abril 06, 2007

A Náusea

Eu tenho uma carapaça
de mim mesma
que envolve meu corpo
Uma carapaça do que
estou sendo
Uma carapaça
Sou um poço ou uma privada
No fundo ambos são
a mesma coisa.
Eu sinto náusea
Eu sinto angústia
O que me traria felicidade
hoje nem me faz cócegas
Tenho medo de arruinar
Então no fundo estou presa
Continuo
Não sou livre
Tenho medo de perder
o que eu nem tenho
direito
Escrava
de mim
dos outros
Por mim?
pelos outros
os outros
Sempre os outros?

sexta-feira, março 16, 2007

Loucura, desvio da Norma?

" A humanidade está separada das suas possibilidades autênticas.
Esta idéia básica impede-nos de aceitar uma perspectiva inequívoca
do equilíbrio do bom senso, ou da loucura daquilo a que se chama o
louco" (LAING, 1979)

segunda-feira, março 05, 2007

Se eu

Se eu fosse eu gritava até que
o mundo ensurdecesse.
Botava todo mundo pra fora,
ou então eu é quem ia.
E sorria, e ninguém nunca mais me via.
E nunca mais voltava
até que rompesse o dia.
Que o motivo é que nunca
fui motivo.
Silêncio profundo.
Que eu não sou Eu nem
sou o Outro.

Chico, Chico sempre presente:

Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu rodei
Que eu bebi
Que eu caí
Que eu não sei
Que eu só sei
Que cansei, enfim.

[Desalento - Chico Buarque e Vinicius de Moraes]

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Será que Se?

Quem nunca se perguntou se se, e por quê?

Se [Alice Ruiz]

se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir
até amanhecer
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso
de noite uma farra
a gente ia viver
com garra

eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto

ia ser um riso
ia ser um gozo
ia ser todo dia
a mesma folia

até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem o meu melhor vestido
era remédio

daí vá ficando por aí
eu vou ficando por aqui
evitando
desviando
sempre pensando
se por acaso
a gente se cruzasse...

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Um pílula, outro não

Mas eu tenho pena mesmo
é de Lia Maria
Cujo relógio do tempo
assim como o peito
Andam descompassados


Eu me chicoteio num dia nem tão frio assim
Um cigarro é tudo o que eu tenho. E uma música triste no rádio.
Lá fora as folhas balançando, folhas amarelas prontas a se despedaçar.
Só uma janela, uma janela me separa das folhas e da fumaça do cigarro
misturada a do incenso vagabundo dançando pelo ambiente e que, no
fundo, são bem mais livres do que eu.
Só quero sair, dar uma volta lá fora.. Mas que diabos!
Porque não vê sentido em nada do que faz?
Até quando? Até quando vai se enganar? Até quando esse
vazio todo irá me corroer.
As folhas balançam mais fortes.
Algo grita, não são as crianças lá fora.
Até onde vai isso, meu Deus?
Quando vai perceber que não há nem nunca vai haver lugar.
Fica sempre repetindo as coisas pra você mesma acreditar na sua vida de mentira,
que não pode enfrentar sem se doer toda.
Uma errante, fútil, egoísta... Egocêntrica de consciência pesada.

domingo, janeiro 21, 2007

Enfim

Os dias passam..
Já faz um ano, e até parece que faz mais tempo. Não sei, mas dizem que isso é bom sinal, como se já estivesse tudo bem..
Mas ainda assim o dia não pode esconder, nem se esconder. Amanheceu e permaneceu acinzentado, ora chuvoso, ora nublado de uma tristeza ainda que escondida lá no fundo. Como quando algo passa rápido demais pela gente e só resta um suspiro entorpecido. Acho que foi isso o que eu senti.
Guardo aquela rosa branca com carinho e com surpresa. Em meio a todo o vermelho, a minha rosa era branca e se surpreendia com um singelo colar e par de brincos escondidos dentro da beleza do botão.
E a pedra que eu te dei era uma ametista em estado bruto.
E estão guardadas e estampadas as espumas, as bagunças, os acampamentos no sítio, sua irmã pequena nos meus braços.. Toda nossa alegria infantil de quem crescia junto e sabia muito um do outro.
Sem saber veio toda aquela separação, a culpa..
Mas a inerência dos tempos passados nos absolveu:
Perdão e redenção..

Um dia Especial
Hoje, alguém que não estava cansado teve que repousar.
Hoje, algúem que começava uma nova etapa foi obrigado a encerrá-la.
Alguém que abria os olhos para um mundo completamente novo
acabou adormecendo num sono profundo.
De um começo foi feito um final, e desse final deverão surgir outros começos para que o fim não seja avassalador.
A partir de hoje, vidas deverão ser reconstruídas pois
sofreram de um abalo intenso.
Hoje me sinto diferente.
Eu tenho a certeza de não ser inantigível, infinda..
Eu sinto o nó na garganta, eu sinto vontade de me calar, eu sinto a tristeza.
Eu sempre soube, mas hoje eu vi olhos perderem o brilho em plena juventude. Eu vi o silêncio quando não haveria motivos para se calar.
Eu vi um rosto tão familiar de um menino adormecido profundamente..
Esteja em Paz..

domingo, janeiro 14, 2007

Hoje

" Acordei bemol
tudo estava sustenido
sol fazia,
Só não fazia sentido. "

[Leminski]

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Uma declaração

Encontrei, contemplei uma declaração rasgada, perdida em um lugar como esse, escuro e convidativo para apoiar-se nas mãos desconhecidas de um leitor (des)conhecido ou (in)existente. Da colombina para um rosto angelicalmente obscuro:

" suas palavras estão doloridas.
amo e odeio ao mesmo tempo.
acho que tenho saudade dos seus
olhos de ressaca, da sua alegria inconseqüente,
dessa mistura de aromas que você exalava em mim.
aprendi que não se deve mais pensar em nada,
nem no dia, nem na noite, nem na pessoa
que foi partida ao meio.
não sei se aprendi na verdade.
pára de pensar cabeça.
pára de maquinar.
me deixa dormir."


Munch

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Mais um esquecido

O Mundo de Alice

(Maria Alice e Leandro estão no quarto de Maria Alice. Leandro está deitado desenhando.)
Leandro com toda sutileza de artista nato desenhava com toda sua habilidade e despretensão. Deitado na cama de Maria Alice, sobre a colcha azul de estrelas amarelas desbotadas pela paixão que M.A tinha pelos astros.
Maria Alice estava sentada, encostada na parede ao lado da cama. Tinha as mãos sobre os joelhos dobrados e às vezes deixava cair a cabeça cansada. Num sorriso soluçante à Leandro: "Vou pintar seu desenho!". E Leandro: "Não, Alice, estou fazendo grafite, não vê??"
Mas era tarde, Alice deixava escorrer de seu indicador a primeira gota de sangue das muitas que escorriam incansavelmente de seus tornozelos.
"Olha que bonito, Lê?!" sorria como criança...
Leandro permanecia inatingível.
Alice: "Vou viajar."
"Isso mesmo." disse Leandro.

"Eu já te disse como você fica bem nesse casaco?"
"Eu sou a favor de você viajar para se divertir e não para se destruir."
"Linda, você é linda!"
"E você faz uso de algum tipo de drogas?"
"Se destruindo.."
"Ai, foi mal! Só queria saber se eu podia dormir aqui!"
"Deu tudo errado lá, tudo errado!!"
"Nossa, mas ele já devia ter chegado..."
"Liga lá, então, pra ver se ele tá lá mesmo!"
"Olha, você não precisa fazer nada que você não queira..."
"Pega esse telefone e liga!"
"Eu é que tenho que fazer suas vontades.."
"Nossa, fez tão bem pra você!"
"Eu.. eu cansei de NÓS!"
"Tá até mais bonita..."
"Deixa ele ir, fica aqui.."
"Você foi meu porto seguro por muito tempo.."
"Se você quiser ficar, pode ficar."