terça-feira, outubro 31, 2006

Quem te viu, Quem te vê

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu, lá lalaiá, procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia

Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você me assista na mais fina companhia

Se você sentir saudade por favor não de na vista

Bate palma com vontade, faz de conta que é turista

[Chico Buarque]

segunda-feira, outubro 30, 2006

Sobre Voar, Sobrevoar

"Aqueles que estão atravancando meu caminho...
Eles passarão...
Eu passarinho!"

[Mário Quintana]

quarta-feira, outubro 18, 2006

E Agora?

Realmente uma pena...
onde eles estão pra te proteger agora?
O quê..vc não sabe se defender? Azar o seu..continuaremos vomitando...verdades nessa sua cara lavada..deslavada pela vergonha hipócrita desse mundo - mudo..
Vê se muda, sacode o mundo se enfia no jogo pra sair perdedor e perder todo esse nada que você já tem.. Eu odeio...eu odeio..talvez eu seja..ou será que é você? Ou será que somos todos nós..tá tudo errado! tá tudo sem sentido.. fomos nós os banidos daquele paraíso detraído..foda-se...azar o seu!?

E AGORA, JOSÉ?

A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José?
e agora, você?

que zomba dos outros,

sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência,
e agora?

A Vela da Agonia

Oswald..Oswald..nada ultrapassado! Recortes selecionados aleatoriamente-intencionalmente...

O REI DA VELA [Oswald Andrade]

ABELARDO I
[...] Nós dois sabemos que milhares de trabalhadores lutam de sol a sol para nos dar farra e conforto. Com a enxada nas mãos calosas e sujas.

HELOÍSA
[...]E você não teme nada?

ABELARDO I
Os ingleses e americanos temem por nós. Estamos ligados ao destino deles. Devemos tudo, o que temos e o que não temos. [...]

E sintetiza:
ABELARDO I
...Os países inferiores têm que trabalhar para os países superiores como os pobres trabalham para os ricos. Você acredita que Nova York teria aquelas babéis vivas de arranha-céus e as vinte mil pernas mais bonitas da terra se não se trabalhasse para Wall Street de Riberão Preto à Cingapura, de Manaus à Libéria? Eu sei que sou um simples feitor do capital estrangeiro. Um lacaio, se quiserem! Mas não me queixo. É por isso que possuo uma lancha, uma ilha e você.... (...)

HELOÍSA
Ficaste o Rei da Vela!

ABELARDO I
Com muita honra! O Rei da Vela miserável dos agonizantes. O Rei da Vela de sebo. E da vela feudal que nos fez adormecer em criança pensando nas histórias das negras velhas... Da vela pequeno-burguesa dos oratórios e das escritas em casa.... As empresas elétricas fecharam com a crise... Ninguém mais pôde pagar o preço da luz... A vela voltou ao mercado pela minha mão previdente. Veja como eu produzo de todos os tamanhos e cores. Para o Mês de Maria das cidades caipiras, para os armazéns do interior onde se vende e se joga à noite, para a hora de estudo das crianças, para os contrabandistas no mar, mas a grande vela é a vela da agonia, aquela pequena velinha de sebo que espalhei pelo Brasil inteiro... Numa páis medieval como o nosso, quem se atreve a passar os umbrais da eternidade sem uma vela na mão? Herdo um tostão de cada morto nacional! (...)

ABELARDO II
Só se pode prosperar à custa de muita desgraça. Mas de muita mesmo...

sexta-feira, outubro 13, 2006

Fluxo de Consciência

Em estado de eterna incompreensão
sentava em sua poltrona vermelha desbotada pelo
atrito dos anos que não vieram
Refletia
O espelho também refletia
Perguntava se os olhos estariam vazios
E alucinava sobre o espírito envelhecido
Medo
Incapacidade
Sem anseios ou recusas
Não havia revolta
apenas estranheza
Descolamento, o não pertencer que anula
Incompreensão diante da neutralidade
absolutamente vazia e estúpida
Eu sei que você luta
mas tenho medo que um dia você cesse
tenho medo daquele semblante
em esgotamento - um
dia lhe disseram.
E como há muito tempo não,
viu-se em lágrimas
O caos tornou-se razão
E soube que recusa metades
e sabe que quem teme o mar não vai à praia
E mais do que isso
tem certeza de que não teme o mar
é para ele uma oferenda
pronta a ser engolida
E os pés sempre descalços..

Toda Nudez Será Castigada

Sobre uma das melhores peças de Nelson Rodrigues (1912-1980) a respeito da estreita ligação entre o puritanismo e a sexualidade exacerbada:



" O que Herculano e Geni vivenciam em Toda Nudez Será Catigada é o que qualquer relação amorosa, de uma ou outra maneira, já experenciou: que amar é, também, esperar pelo outro que virá ou não virá, que me reconhecerá ou não me reconhecerá. E esperar pelo outro, o que parece um intervalo, um momento de vácuo, uma saudade, é, enfim o que se chama "vida" - cheia de um misto de dúvidas, pequenas traições e uma imensa solidão. " [Paulo de Moraes - diretor]



quinta-feira, outubro 12, 2006

O Intermediário

Por ora, após reflexões acerca do estado de intermédio
anseios: pés descalços pisando grama fresca e água límpida.
recusas: meias-palavras, meia-vida, metades.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Disritmia

As luzes entravam difusas pela janela
a música afiada
caótica afinação
um peito inflado
súplica pelo punhal guardado ao lado
abrir-se para poder transbordar
alívio?

sexta-feira, outubro 06, 2006

Estrada que dói
Encanto de flor
Labirinto
Espera de redes
Parece toda raiz
Só raiz
Volta que esse mundo só precisa de você
Não fique ai enterrada
Vem pra rua

[Transfiguração - Cordel do Fogo Encantado]

Ela Disse Assim

Ela disse assim
É porque é
É porque é

Não há desespero em vão

Se ela quer voar
É porque tem asas

É porque tem asas
Não não não

Quando a gente voa
Distante e só

Tão distante e só

O sol não vem e a luz que cai
Nunca mais voltou
Nunca mais voltou
Não não não

[Cordel do Fogo Encantado]

terça-feira, outubro 03, 2006

Adoráveis Ilusionismos

Adoráveis diálogos visionários entre Um e Outro:

Um- Então você é o que de mim?
Outro - Hmm..(compenetrado, tentando definir-se)
Um - ... (aguardando ansioso pela resposta)
Outro - Já sei.. Sua borboleta! Sou sua borboleta!!
Um- Agora minha mãe já pode ficar mais tranqüila, quando ela me perguntar
direi a ela que você é minha borboleta!

Tempo depois

Outro - (levemente fora de si) Você é muito importante pra mim..
Um - Eu te amo...(pausa) mesmo sem saber quem eu sou direito..