sábado, setembro 08, 2007

TRILOGIA SUJA - Pedro Juán Gutiérrez

"Me pareceu que muitíssimos anos antes minha alma havia abandonado o meu corpo e agora estava regressando. Podia senti-la invadindo cada cantinho do meu sangue e de minha carne.
Isabel havia se sentado na cama. Esperava por mim. Só de olhar para ela tive uma ereção instantânea. Continuava gostando dessa mulata. No final das contas, que fidelidade posso eu exigir? O mais infiel dos mortais.
Fechei a porta. Nos despimos devagar. Nos abraçamos e nos beijamos. Bem apertados. Meu coração se acelerou e quase derramo uma lágrima. Mas me contive. Não posso chorar na frente dessa bandida. Penetrei- a muito devagar, acariciando-a, e ela já estava úmida e deliciosa. É como entrar no paraíso. Mas também não lhe contei isso. É melhor gostar dela à minha maneira, em silêncio, sem que ela saiba." (p. 295 - EU, O MAIS INFIEL)

"Mas não vou contar essas histórias porque são muito pornográficas. Mesmo que absolutamente reais. A vida é assim. O que mais atrai é o proibido. Uma noite, estamos Isabel e eu muito tranqüilos no meio da brisa noturna de agosto, sentados no Malecón. Em silêncio. Escutando as ondinhas que murmuravam nos recifes da orla, e olhando o céu negro ao longe e o negro mar que se afasta, ou se aproxima. Estamos mergulhados nisso: a escuridão imensa como um abismo a distância, e o cândido rumor da água a nossos pés. De qualquer jeito, estou vazio por dentro e aquele abismo negro e aquele murmúrio das ondas me atravessa de um lado a outro. Não fica dentro de mim. Só me atravessa e segue seu caminho. Mas pelo menos refresca um pouco. Aspiro forte e sinto o frescor daquele mundo imenso me invadindo. Mas a paz não chega. É como uma merenda rápida. Só isso." (p. 320 - O TRIÂNGULO DAS PITONISAS)

FORTALEZA


Foto: Rubens Bias


Minha fortaleza


Minha fortaleza é de


um silêncio infame


Bastando a si mesma,


retendo o derrame


A minha represa


[Chico Buarque/Ruy Guerra - CALABAR]